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DENISE DEL VECCHIO

NOSSA ÚLTIMA ENTREVISTADA FOI DENISE DEL VECCHIO. A ATRIZ, SIMPÁTICA E BOA DE PAPO, NOS RECEBEU NO HALL DO HOTEL EM QUE ESTAVA HOSPEDADA, EM IPANEMA. CONFIRAM ABAIXO NOSSO BATE-PAPO COM A OLÍVIA DE "FERA RADICAL":

 

 

 

SITE – Denise, FERA RADICAL foi sua primeira novela na TV Globo depois de passar por várias outras emissoras, como Tupi, Bandeirantes e SBT. Como surgiu a oportunidade de fazer FERA RADICAL?

 

DENISE – Olha eu não sei bem quem foi que me indicou. Eu acho que foi o Walter Negrão, que me conhecia da TV Tupi e me indicou para o papel. Eu acredito que tenha sido ele, mas nunca tive muita certeza, ele nunca me confirmou isso, porque ele é um homem muito elegante. Eu acho que foi ele, sim, que me indicou e o Blota me chamou e eu fui fazer esse meu primeiro trabalho na TV Globo.

 

SITE – Você já tinha protagonizado uma novela no SBT chamada ACORRENTADOS. Qual foi a diferença que você sentiu quando “caiu” na Rede Globo depois de ter passado por tantas outras emissoras que não eram consideradas a líder de audiência?

 

DENISE – Quando eu fiz ÍDOLO DE PANO na TV Tupi, foi uma novela de enorme audiência. Uma novela que tinha ainda Tony Ramos, Denis Carvalho, Elaine Cristina,... E pra mim ainda não existia essa de apenas a TV Globo ser a emissora de grande audiência. Depois eu fui pra TV Bandeirantes, a TV Tupi faliu, então eu comecei a perceber que a situação era diferente. A primeira surpresa que eu tive quando cheguei à TV Globo realmente era com esquema de produção que era inigualável já naquela época, já era um esquema de produção que até hoje é imbatível. Não é nem tanto organizado, mas muito criativo, com equipes muito grandes, muito arrojadas, por exemplo. Denise Saraceni, que hoje é uma diretora de núcleo, era assistente de direção em FERA RADICAL, era na verdade a primeira novela que ela pegava com alguns cenários que ela dirigia e ela dirigiu muitos cenários meus. E a Denise tinha uma vontade de criar, ela era cria do Walter Avancini, então tinha uma fúria criativa tão grande, aí a gente podia criar realmente, tinha uma sensação de criatividade que nas outras emissoras eu não tinha, era um pouco mais burocrático. Então eu nunca esqueço que uma das primeiras cenas que eu gravei na FERA RADICAL era um suicídio da personagem, da Olívia, e eu tomava uns remédios, imagina, naquele horário, naquela época, olha que loucura! Eram umas bolinhas de homeopatia, sei lá o quê, e eu peguei os “remédios”, engoli, eram açúcar, e o que sobrou eu coloquei de lado e dei um tapa no vidro. E aquilo caiu e quando caiu a Denise focalizou naquilo, fez uma chuva de bolinhas em Slow Motion e aí a gente começou uma brincadeira que eu me lembro que a gente fazia com a Denise (Saraceni) que era assim: “vamos nos preocupar com os pequenos detalhes do personagem, como é que ela pegava a xícara, como manipulava as pessoas” e isso pra mim foi fascinante.

 

SITE – Essas sutilezas são muito marcantes, a gente percebe que tem todo um trabalho criativo em cima. Esses pequenos detalhes caracterizam um personagem. Curiosos saber que, naquela época, a Denise já tinha essa preocupação ao dividir a direção da novela com o Blota. Hoje ela é diretora de núcleo.

 

DENISE – E o mais maravilhoso era que o Blota era o diretor das grandes cenas, dos grandes eventos. Eu jamais posso esquecer do Blota naquela fazenda dirigindo uma festa de casamento de chinelo, chapéu de palha, um sol de matar e ele dirigindo todo mundo, mas um grande orquestrador, todas as câmeras, gruas e um elenco enorme, figurante, “roda aí, bata lá, bota ali” sem gritar, impressionante, sem perder a calma, sem perder o humor e botar tudo em ordem. Eu ficava olhando fascinada com o poder daquele homem, a capacidade de organizar, com a hierarquia, com a autoridade que ele tinha sem precisar levantar uma voz. E depois, quando terminava, a gente ia pra churrascaria, jantava, e ele sentava com todo mundo, do técnico ao primeiro elenco, juntava todo mundo. Ele gostava muito de comer codorna. Nossa, era o máximo!

 

SITE – Justamente por ter sido sua primeira novela na TV Globo, FERA RADICAL deve ter tido um gostinho de estréia e a sua personagem tinha uma grande importância na trama. O que você tem a nos dizer sobre a Olívia Flores?

 

DENISE – É engraçado, porque a sensação que eu tenho da Olívia até hoje é de susto, talvez esse susto de estar chegando à TV Globo, do tamanho da responsabilidade. Veja de quem eu estava cercada: Yara Amaral, Paulo Goulart, Zé Mayer, aí minha filha era Cláudia Abreu! Mesmo quem estava começando já era genial (risos). Denise Saraceni, o Blota, Laura Cardoso! Imagina: eu tinha como mãe postiça Yara e como mãe verdadeira Laura Cardoso. Então, era tanta gente maravilhosa a minha volta, que eu tenho uma sensação de susto e eu precisava olhar muito, aprender. Mas o que eu me lembro é desse prazer do trabalho, o prazer de chegar, realizar e ir para aquela fazenda e gravar, de aprender a andar a cavalo, foi aí que eu aprendi, acho que agora já desaprendi (risos). Eu não sei te dizer, eu lembro desse susto e desse prazer que foi fazer esse trabalho. Eu ia de carona com a Malu. A gente ia para a Cinédia e eu não sei porque eu ia de carona com ela, acho que é porque eu morava aqui, a gente morava perto e ela me dava carona, eu sempre fui de São Paulo e não tinha carro aqui. A gente ia ouvindo música e eu sou bem mais velha que a Malu, mas ela me apresentou rock que eu não conhecia no rádio do carro dela, então era muito bom. E pude ficar próxima da Malu também, que é uma pessoa adorável. E fizemos depois muitos trabalhos com o Gilberto (Braga) e ela é uma pessoa que eu admiro demais e agora na CELEBRIDADE eu estou babando por ela.

 

SITE – De todas as personagens de FERA RADICAL a Olívia foi a que deu a maior virada durante a novela. No início era submissa ao marido, não tinha uma boa relação com a filha, era contida. Era oprimida pela Joana, uma personagem controladora, acho que justamente para mostrar o contra-ponto entre as duas.

 

DENISE – Tem uma coisa engraçada: eu sempre faço personagem que dá virada. Não sei se é característica minha, que eu meio que vou imprimindo, mas sempre acontece alguma coisa no meio, que acaba dando uma guinada. E eu não tinha idéia que isso fosse acontecer com a Olívia. Alias a gente nunca tem idéia de nada do que acontece na novela (risos). Você tem certeza de é mesmo filha daquele pai? Daquela mãe que veio no meio do caminho? (mais risos)

 

SITE – Tem uma cena sua com a Laura Cardoso na novela em que sua personagem está presa e a personagem da Laura vai visitá-la e você fica ciente de que ela é sua mãe. E a reação que ela tem é de uma grande gargalhada, que na verdade foi uma descarga, é ali que começa a mudança, a virada da personagem, que era muito séria, cheia de convenções.

 

DENISE – Ela tinha medo de acabar o casamento, de apanhar do marido.

 

SITE – Depois dessa virada, a gente compara as cenas do início da novela e vê que a personagem está bem mais solta, que remoçou uns 20 anos. Bom, Denise, como era o clima nos bastidores.

 

DENISE – Então olha só que coisa maluca: era meu primeiro trabalho na televisão e eu gravava primeiro muito com o Rodrigo (Santiago), que eu já conhecia de São Paulo e que era meu colega de teatro, e muito com a Yara (Amaral). E a Yara era uma atriz que eu não conhecia pessoalmente, eu vim conhecê-la na novela, eu a admirava muito, e foi uma pessoa que abriu o caminho pra mim. Ela me dava conselho, ela me ajudava. E agora eu vou fazer a Yara, ontem fui até colocar cabelo... (Denise interpretou a Yara no programa LINHA DIRETA, sobre o naufrágio do Beatou Mouche). Eu fiquei muito próxima da Yara. Isso é uma coisa que eu lembro muito. Eu falava “eu não quero me mudar pro Rio” e ela dizia “ah não adianta! Se você quiser fazer uma carreira boa aqui na televisão você tem que mudar pro Rio”, e eu não me mudei até hoje, não segui esse conselho dela. Ela dizia “não adianta querer ser Paulista, ficar indo e voltando, você tem que mudar pra cá pra fazer uma carreira, você tem que estar presente, não adianta você querer ficar à distância”. Tinha o Thales, que era brincalhão, muito divertido, uma pessoa adorável, inteligente, sabido, culto. Pena que muita gente foi embora, né? O Cazarré, que era divertidíssimo, o Paulo que é uma pessoa de humor maravilhoso, quando ele estava naquela cadeira de rodas era muito engraçado; a Laura que é minha grande amiga até hoje, amiga de paixão, a gente torce pra ser escaladas juntas nas novelas porque a gente quer ficar juntas e a nossa amizade começou nessa novela. Então nós tínhamos esse clima que eu acho que era liderado pelo Blota. Proposto pelo Blota. Porque eu acho assim: novela depende muito de protagonistas, porque se têm protagonistas que estabelecem um clima de estrelato, de exclusão, seletiva, todo elenco acaba se relacionando dessa forma, cada um na sua e tal. Se você tem protagonista que é democrático, amoroso, afetivo, o elenco inteiro se contagia desse clima e essa novela tinha isso. Todo mundo ficava à vontade em qualquer cenário, qualquer cena.

 

SITE – E a FERA RADICAL, na verdade, os protagonistas eram como se fossem uma espécie de presente, a Malu tinha vindo de ANOS DOURADOS, que era o grande sucesso dela, tinha uma personagem de destaque em O OUTRO, uma novela um ano antes, e teve ali sua primeira protagonista de novela de verdade. O Zé Mayer a mesma coisa, veio de O PAGADOR DE PROMESSAS. Então os dois ganharam um presente, ali foi a consagração deles como atores protagonistas de novelas na TV Globo.

 

DENISE – O que era a Malu chegando naquela moto de roupa preta? Um impacto!

 

SITE – Fale um pouco sobre os colegas de elenco que já faleceram. Essa é a maneira que encontramos para homenageá-loS no site. Você contracenava diretamente com muitos deles...

 

DENISE – O Thales é isso que eu te falei, um menino de uma inteligência, de um brilhantismo, bom humor, lindo, um menino lindo, bailarino, brincalhão, bom ator. Eu lembro ainda de um último espetáculo que teve com direção do Falabella, aqui no Rio, que ele fazia com Maria Padilha, acho que CINE VENEZA, ele era um varredor de cinema. Era um deslumbramento! Eu era doida por ele, adorava gravar com ele, porque era carinhoso, brincalhão, jamais imaginei que naquela época ele ia se casar com a Carla. Já namorava com ela antes? Eu sou a pessoa mais desligada do mundo pra essas coisas (risos). Enquanto não sai na revista “Caras”, na capa, eu não sei, não dou a menor bola pra isso (risos). Mas eu amava o Thales, adorava ele! O Rodrigo (Santiago) chegou a dar aula de teatro pra mim em São Paulo. Quando eu comecei a fazer teatro no Teatro de Arena, o Rodrigo era professor, deu aula de Strazberg pra mim, então eu tinha um respeito enorme por ele. Era um ator estranhíssimo, intrigante, maravilhoso. O George Otto era um menino, uma criança, brincalhão, maluco (risos). Cazarré o que a gente faz? A gente abaixa, ajoelha e beija o pé! Era um brincalhão maravilhoso, um ator maravilhoso, ator popular brasileiro da mais pura cepa. Yara, uma das maiores atrizes brasileiras, se tivesse viva seria outra Fernanda Montenegro.

 

SITE – A FERA RADICAL foi uma novela que inovou o horário das 18h, que até então vinha apresentando uma série de novelas de época. Alias, a FERA nem era para ter acontecido, já que a novela que entraria no horário seria AMOR PERFEITO, do Alcides Nogueira, mais uma de época e que teve sua sinopse reprovada, e o Negrão teve 40 dias para apresentar uma sinopse à TV Globo para tapar esse “buraco” na programação e daí nasceu a FERA RADICAL. Curioso é que AMOR PERFEITO foi ao ar muitos anos depois, com autoria do Gilberto Braga, e você participou: FORÇA DE UM DESEJO, em 1999/2000.

 

DENISE – É mesmo? Então era uma novela do Alcides que ia entrar? Então eu estava escalada para a novela do Alcides, que é meu grande amigo, e quando não entrou, eles me aproveitaram para FERA RADICAL. Provavelmente foi isso que aconteceu. Apesar que eu já era amiga do Negrão da TV Tupi, mas o mais provável era que tenha acontecido isso.

 

SITE – Fala um pouquinho desse trabalho que você vai fazer no LINHA DIRETA.

 

DENISE – É um roteiro belíssimo sobre a tragédia do Beatou Mouche. Conta a história de quatro famílias, é bem jornalístico e eu faço a Yara (Amaral), essa parte que corresponde a Yara. Não é a história sobre a Yara, é sobre a tragédia do Beatou Mouche onde a Yara está inserida na história. E tem um trecho do sonho dela, ela sonhou que as ondas do mar, invés de vir em direção à praia iam para dentro e faziam “Yara, Yara, Yara”. Ela teve esse sonho na semana do naufrágio. Ela tinha pavor de água, isso era verdade, ela na entrava na água e tem uma cena dela entrando na piscina, porque ela tinha acabado de construir a casa no Itanhangá. Quando acabou a novela, a novela acabou em novembro, né, acabou mais ou menos com a casa, aquela casa que ela tinha acabado de construir com empréstimo e tinha uma piscina a casa. Um dia ela disse “ai agora eu tenho uma piscina e vou enfrentar meu medo de água, vou entrar naquela piscina”, isso ela disse pra mim! Então tem uma cena ela entrando na piscina dizendo “vou vencer meu medo da água” e tem a cena no barco. Eu tive a oportunidade de rever umas fitas, até umas cenas da FERA RADICAL e algumas coisas dela em teatro. Ela era realmente uma mulher impressionante. É inacreditável que isso tenha acontecido... Quando você vê as fitas da Yara fazendo “Rei Lear”, “Filomena Maturano”, fazendo a FERA RADICAL... Ela pegava aquele chicote, né?

 

SITE – Ao longo da história ela foi revelando um comportamento de uma mulher desequilibrada e a maneira com que ela encarnava aquilo era uma coisa impressionante, ela era a louca! Virou a grande vilã da novela.

 

DENISE – A personagem dela morre, não morre? Você sabe que eu me lembro que quando morreu o personagem ela ganhou umas rosas no dia que ela terminou de gravar e ela saiu com aquelas flores e hoje eu tenho uma lembrança fúnebre daquilo, porque me lembro dela saindo da Cinédia com aquelas rosas que ela ganhou. Foi a última vez que a vi. Engraçado, né? E aquilo que seria um ato festivo, pra mim ficou uma imagem dela carregando aquelas rosas... Uma imagem fúnebre, porque depois nunca mais a vi. Mas eu acho de qualquer forma pra mim é uma oportunidade única, acho que a Yara meio que me delegou isso. Eu nem estava no Brasil, estava em Barcelona, cheguei numa segunda-feira, e tinha um telefonema da Globo pra isso. Foi por questão de um dia senão não teria dado tempo e eu cheguei em cima e deu tempo e então eu acho meio que... Sei lá, a Yara me escolheu um pouco, eu acredito. Pelo que ela me ajudou quando eu fiz a FERA RADICAL, pelo que ela foi carinhosa comigo, pelo tanto de conselhos que ela me deu eu acho que ela também me delegou isso, essa missão. E tem depoimentos das pessoas que sobreviveram, é impressionante. Depoimentos de Fernanda Montenegro, Natália Thimberg, Sérgio Brito. Depoimentos da época e depoimentos de hoje, tem depoimento do barco que salvou cinqüenta pessoas, é muito impressionante, o programa vai ficar muito bonito. Quando a gente viu o “copião” do material jornalístico ficou aquele silêncio... E saber que os donos das empresas estão impunes, estão lá na Espanha.  

 

 

E ASSIM NOS DESPEDIMOS DE DENISE, AGRADECENDO O BOM PAPO, AS INFORMAÇÕES E SUAS LEMBRANÇAS DE "FERA RADICAL".

                                         

                               Novela FERA RADICAL

                                                                                                                  Contato: feraradical88@terra.com.br

                               Rede Globo de Televisão

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