





PAULO GOULART

EM 28 DE MAIO DE 2004, UM DOS GRANDES ATORES DO TEATRO, DA TV E DO CINEMA BRASILEIRO, CONHECIDO NÃO SOMENTE POR SEU GRANDE TALENTO, MAS TAMBÉM PELA SIMPATIA E BOM HUMOR, ABRIU AS PORTAS DE SUA CASA E RECEBEU A EQUIPE DO SITE PARA ESSE BATE-PAPO DESCONTRAÍDO. ESTAMOS FALANDO DO NOSSO ETERNO ALTINO FLORES, O MAGNÍFICO PAULO GOULART:
SITE – Como surgiu o convite para integrar o elenco de FERA RADICAL?
PAULO – Escalações de televisão a gente nunca sabe direito se é o autor, se são os diretores, se é o diretor de núcleo... Na época era o Boni. Tudo é uma conjugação. Eu acredito que a minha indicação talvez tenha sido do próprio Negrão (Walter Negrão, autor da novela). Sempre fomos muito amigos, a gente se conhece de São Paulo, partilhamos da mesma filosofia de vida, então eu acredito que a sugestão tenha sido do Negrão. Mas nunca se sabe a palavra final. Na época a palavra final sempre era do Boni. Então, digamos assim que houve um concenso (risos).
SITE – O que você teria a dizer sobre seu personagem, o Altino Flores?
PAULO – É muito vasto. Foi o primeiro personagem que fiz que tinha um problema de paralisia. Era um personagem rural, eu nasci em fazenda, então aquele ambiente era extremamente familiar para mim. Eu já estava trabalhando com a Yara Amaral em teatro, onde fazíamos uma peça chamada SÁBADO, DOMINGO, SEGUNDA, que eu estou reeditando agora com a Nicete (Nicete Bruno, atriz e esposa de Paulo). Então, era um personagem, na realidade, com uma família muito estruturada, mas curiosa, de personalidade forte, contrastes, com dois filhos também opostos, um era o Zé Mayer e o outro o Thales Pan Chacon. Vivia numa cadeira de rodas. E a Yara Amaral era a matriarca. Um dos segredos de uma novela é você ter uma boa distribuição. Existiam outros n~ucleos que tinham o Elias Gleiser, Carla Camuratti, Laura Cardoso, Cazarré,... Cada novela você acaba formando uma outra família, aquela família que nós chamamos de “família teatral” e, agora, uma família televisiva. E acaba tendo um relacionamento extremamente agradável, amistoso. Eu tenho belas recordações. Foi o primeiro grande sucesso da Malu Mader, que fazia a protagonista e tinha uma coisa muito curiosa, né, um certo fascínio do meu personagem por aquela menina corajosa e pra época também um personagem muito forte, enfim, nós tivemos uma relação de colegas e de personagem bastante interessante. Eu guardo recordações bastante agradáveis desse período. O Altino me deixou muito essa lembrança, não só da relação com as pessoas, mas de uma pessoa poderosa que fica presa nuca cadeira de rodas. Foi um trabalho muito curioso, mais para abastecimento interno, o público não fica sabendo dessas coisas, mas te abastece muito. É uma das coisas do nosso ofício. Vocês já entrevistaram a Malu?
SITE – Já. A Malu foi a primeira entrevistada e o interessante é que ela também reforçou essa proximidade dos personagens que se estende aos atores, criando laços de amizades que ficam. O Zé Mayer e a Laura Cardoso, entrevistados por nós, também.
PAULO – Você vê que fica, né? (risos)
SITE – O Altino era um personagem muito forte, tinha vários dramas na novela, uma relação conturbada com a Marta, personagem da Laura Cardoso, mãe da primeira filha dele. Você destaca alguma cena em especial ou algum fato marcante?
PAULO – Eu lembro de um acidente onde o Cazarré levou um coice. Quebrou um braço, se não jme engano, porque a gente gravava muito lá na Rural – Rio com cavalos. O Zé Mayer monta muito bem, né? E eu me lembro desse acidente. Nós todos tínhamos uma grande sintonia e especificamente não tem aquela sequência inesquecível. FERA RADICAL era uma novela com muitos acontecimentos e essa coisa rural. Eu me lembro basicamente do acidente. É o registro mais forte que eu posso te dizer. E também uma coisa curiosa: quando meu personagem entra naquele equipamentode ressonância magnética. Embora de mentirinha, foi uma coisa muito desagradável (risos). Foi minha primeira experiência de ressonância magnética.
SITE – Nos fale um pouco sobre os colegas de elenco já falecidos e os colegas que ainda estão aí fazendo sucesso em outros trabalhos.
PAULO – É verdade, tem uma turminha que está no andar lá de cima. A Yara foi uma atriz muito visceral, italiana. Não sei nem se ela tem essa origem, mas era uma atriz muito forte, carismática, nós já havíamos trabalhado juntos no teatro. Luis Maçãs também é uma recordação muito curiosa de um ator muito promissor, fez uma peça também com a própria Yara. Thales também um talento enorme, estava na época namorando a Carla Camurati, eles tinham uma relação afetiva. O Cazarré, meu Deus, que morreu de uma forma tão trágica, Rodrigo (Santiago) também. Enfim, é muito difícil você tentar dentro disso fazer uma homenagem a cada um deles. O Otto (George Otto) também teve uma morte tão prematura, as pessoas talvez nem se lembrem mais dele, a nossa memória é extremamente curta e a televisão tem uma coisa também meio terrível, sabe? Ela é muito instantânea, passou. Então o fato de vocês estarem fazendo esse site é uma coisa extremamente positiva nesse meio, é resgatar um pouco isso, de “olha, houve esse tipo de coisa nessa época, nesse momento, dessa forma”, então o que eu posso te dizer é que esta ausência destes colegas é parte desta família que se foi. Porque em realidade cada núcleo você acaba convivendo com essas pessoas independente de se os personagens tiver afeição que nos ligue a cada um deles, vai permanecer a vida inteira. Alguns depois ficam mais próximos, outros não. Eu tenho pela Malu, por exemplo, um carinho muito paternal cada vez que a gente se encontra. Claudinha Abreu também estava nessa novela e é muito amiga da Malu. Às vezes quando eu vejo CELEBRIDADE eu penso “que coisa bonita, eu conheci as duas numa outra época, fazendo outras coisas e agora elas estão aí fazendo um sucesso enorme.” É muito bonito você acompanhar essa trajetória do nosso ofício e a fera foi um pouco do começo de uma etapa pra cada um deles. Foi o primeiro grande sucesso da Malu, talvez o primeiro grande sucesso do Zé também, formando um casal com ela, e nós, os veteranos, participando desse processo. Tão difícil quando a gente fala veterano (risos), não no sentido da idade, mas tempo. A maturidade é uma etapa da vida onde se você souber catalisar, guardar as coisas positivas, é um grande alicerce, é a estrutura básica pra você entender todo o movimento do mundo e da sua profissão. Esses encontros eventuais e a necessidade de permanência que nós temos de estar reciclando sempre. Então quando você tem essa consciência desaparece essa coisa do “veterano” e sim da maturidade que ninguém em nenhuma profissão pode se acomodar, mas ao mesmo tempo isso deve ser uma coisa extremamente gratificante e não “meu Deus, eu tenho que ficar estudando, eu tenho que estar sempre ligado”, enfim, depende do temperamento de cada um, de você ter consciência de que principalmente na nossa área é fundamental que você esteja realmente sempre antenado, participando, isso faz com que dentro do nosso ofício, onde nós vivemos muitas outras vidas, tenhamos uma abertura muito maior de análise, de não julgamento de percepção e muito mais na causa de cada personagem.
SITE – Paulo, deixe um recado para os internautas que acessam o site.
PAULO – Pra mim é uma grande surpresa saber que FERA RADICAL tem fãs até hoje e acho muito bonito que vocês estejam justamente resgatando isso, verificando isso. Em realidade, uma novela pertence basicamente ao autor. Por isso essa homenagem ao Walter Negrão, que foi quem arquitetou tudo. É bom deixar para as pessoas que assistiram a novela, que guardam essa recordação tão agradável, o nosso agradecimento. No teatro, quando termina o espetáculo, a gente agradece os aplausos. Nos veículos de comunicação onde isso é impossível, fica esse registro. Então eu estou recebendo isso como se fosse um aplauso e só tenho que agradecer a quem nos aplaude e a vocês que promovem esse aplauso. Um beijão no coração!
E NESSE CLIMA TERMINAMOS A ENTREVISTA. O PAULO É REALMENTE TUDO AQUILO QUE OUVIMOS FALAR DELE: TALENTOSO ATOR E UM SER HUMANO COMO POUCOS. MUITO OBRIGADA, PAULO, POR TER NOS PROPORCIONADO ESTE MOMENTO INESQUECÍVEL.







